Matriculada no curso de
fisioterapia, chega finalmente o dia da primeira aula de Anatomia. Belíssima
aula de respeito ao cadáver. Isso mesmo. Aprendemos que estudar aquele corpo
era a forma de podermos adquirir conhecimento para posteriormente cuidarmos de
seres humanos VIVOS! Coloquei em letra maiúscula, pois, mais para frente, vou
contar uma história que vale a pena... Duvido que você não dê risada!
Tirando o cheiro de formol,
que fica no seu nariz pelo resto do curso, adorei a aula. Tomei uns quinhentos
banhos aquele dia achando que o cheiro estava em mim. Não estava, mas o meu
nariz dizia que sim!
Na segunda aula chegou à
hora de encarar a fera... Quer dizer... a peça. É assim que chamamos as partes
do corpo que estudamos no laboratório de anatomia. Peças anatômicas. Para falar
a verdade a primeira impressão é de que aquilo não é de verdade. Adorei! Exceto
pelo peso da perna! É... vocês não imaginam como uma “perna” é pesada quando
você vai buscá-la no tanque encharcada de formol... Essa parte não é legal. O
tanque de formol é um pouco ruim sim.
Durante esse papo em casa,
na hora do almoço é claro, dou de cara com carne para comer. Minha mãe não come
carne, mas meu pai sim e eu até então comia. Pois bem... comia. Virou passado
depois da primeira aula de Anatomia. Qualquer semelhança entre a carne que
estava no prato e as peças anatômicas não era mera coincidência! Não dava para
encarar. Se você gosta de carne e quer continuar gostando pule o próximo
parágrafo!
Os músculos do nosso corpo e
aqueles bifes de carne são iguais! E o
pior... ao manipular as peças, elas soltam uns pedacinhos que são exatamente
iguais a carne moída. Aquela mesma que minha mãe fazia com abobrinha e eu tanto
gostava!
Resumindo... nunca mais
consegui comer carne vermelha. Hoje encaro apenas peito de frango e peixe.
Mas vamos lá seguir
enfrente... As aulas de Anatomia eram muito legais e me fizeram descobrir o
quão maravilhoso é o corpo humano. É uma máquina incrivelmente quase perfeita.
Sim quase porque felizmente não somos perfeitos, somos humanos.
Quando pensamos no corpo
temos aquela idéia de que tudo esta meio solto lá dentro e não é nada disso. As
coisas têm uma organização perfeita e circuitos de dar inveja no melhor dos
computadores. Para ser honesta, não sabemos usar a máquina que temos ao nosso
dispor.
Tudo bem que não dá para
negar que quando te entregam na mão uma caixa cheia de osso você pensa em
desistir! É sério... a primeira vista é impossível descobrir qual osso é qual e
neste momento chega a professora e te entrega uma lista com uns 20 nomes. Não...
não são os nomes dos ossos que estão na caixa. Isso ela parte do principio que
é fácil demais e que você já sabe. Essa lista é referente a apenas um dos
ossos. É o nome dos acidentes ósseos. É uma verdadeira catástrofe. Cada
pedacinho do osso tem um nome diferente que na hora você jura que não serve
para nada e só depois vai descobrir que aquilo é necessário.
E mais, um mês depois você
já esta achando que osso é moleza, pois você começa a ficar doida com tanto
músculo, ligamento, cápsula, órgãos que o corpo humano tem. Isso sem falar na
neuroanatomia. Isso sim é mesmo coisa de maluco! Mas é incrível...
Bom, depois que você
literalmente surta com a caixa de osso chega a hora da primeira prova prática.
Pensa no cenário... O laboratório de Anatomia já não é o mais caloroso dos
ambientes. Em cada bancada de inox gelada uma peça com um alfinete da cabeça
colorida mostrando o que é para você decifrar. Exato decifrar. Na primeira
prova aquilo é um enigma.
Vai passando um aluno por
vez em cada bancada e entre 15 ou 20 segundos a professora ou assopra o apito
ou grita MUDA... Parece que aquele som vem do além porque o lugar para fazer
eco!
Neste momento, fique feliz.
Se você superou o trauma da primeira aula e da primeira prova de Anatomia sua
chance de seguir enfrente são grandes.
Mas não é só de Anatomia que
o curso de fisioterapia é feito. No primeiro ano são inúmeras as matérias
denominadas básicas que irão te preparar para as disciplinas dos próximos anos.
Mas você não quer nem saber. A ansiedade de descobrir como tratar faz você
querer passar rapidinho pelo primeiro ano para chegar logo nas aulas
específicas. Quando as aulas específicas chegam você entende o porquê aprendeu
tudo àquilo que você não deu muita bola no ano anterior! É isso aí, tem que
correr atrás das informações aprendidas ou daqui para frente você não entendera
mais nada do curso.
Tudo bem, que tem gente que
não dá a mínima para isso e vai levando o curso do jeito que dá. Já diz o
ditado que cada cabeça uma sentença! Mas vamos lembrar que nosso objeto de
trabalho será o ser humano. Não um saco de batatas! Coloque-se na pele do seu
paciente e você estaria rezando para seu terapeuta ter levado o curso a sério.
Mas vamos lá...
Você
vai cuidar de mim quando eu morrer?
Ahhh... essa história vale a
pena!!! Lembra que falei logo no comecinho: “Aprendemos que estudar aquele
corpo era a forma de podermos adquirir conhecimento para posteriormente
cuidarmos de seres humanos VIVOS!”.
Pois bem. Escuta só...
Primeiro ano e faculdade,
início das aulas, todo mundo quer saber como é, o que você aprendeu de novo...
enfim... a curiosidade é geral.
Comigo não foi diferente.
Estava eu fazendo as unhas no salão de cabeleireiro quando comecei a contar as
novidades. É claro que as aulas de Anatomia são a primeira coisa que todos
querem saber.
Eu estava achando o máximo
responder a todas aquelas perguntas e assim foi o papo durante toda a minha
unha. Quando terminei, uma moça que estava aguardando para cortar o cabelo vira
e fala: “Ju, então quer dizer que quando eu morrer, alguém como você cai cuidar
de mim?”
NÃO.... Ela não entendeu
absolutamente nada do que eu havia explicado até aquele momento!!! A risada foi
geral...